Mas esta história não será contada por mim. Ela será contada por aqueles que protagonizaram ela, no caso, Gui e Nana, que são o nome dos dois protagonistas dessa história ^^' Você não encontrará coisas "fortes" na história, é uma história comum, protagonizada por crianças meio inocentes.
Enfim, a partir desse ponto, a história começa. Caso goste, dê um alô dizendo que gostou, caso não, dê um alô dizendo no que é que eu posso melhorar (Ou xingando, sei lá). Talvez ela fique um pouco longa, acho que me empolguei um pouco, vamos tentar colocá-la em cinco capítulos. Boa leitura!
- Capítulo 1 - Waterloo Bridge:
- Era um dia quente de inverno. Primeiro, isso era estranho. Estávamos na Inglaterra, em Londres, em uma viagem com a família e nessa época do ano as temperaturas chegam até a -5ºC. Mas ainda assim, estava quente, e, bem, eu não me queixava de nada. O que é que eu estava fazendo num dia quente como esse, viajando com todos os parentes? Bem, se minha memória não falha, eu e minha prima, Nana, estávamos caindo de uma ponte, direto no convés de um barco que estava passando.
Vou explicar. Meu nome é Gui. Essa história ocorreu á um tempo atrás, mas Nana e eu (Principalmente ela) decidimos escrevê-la. Não sei uma boa explicação pra isso, talvez deixar na forma de registro e alguém se interessar algum dia. Eu dei a ideia de talvez colocarmos ela em algum concurso de histórias, estamos pensando na ideia. Bom, agora eu vou tentar explicar como nós fomos parar numa ponte, e melhor, como nós caímos dela.
A ponte era a Waterloo Bridge, na Inglaterra. Depois de um passeio no Big Ben e outros pontos turísticos de Londres, a família decidiu tirar um dia de folga. Eu e Nana decidimos passar o dia na ponte, uma das coisas que mais tínhamos gostado na cidade, fazendo nada o dia inteiro. Nico, o irmão de Nana, decidiu ir com a gente (O suficiente pra deixá-la emburrada), mas ele decidiu dar uma volta longe de nós.
Mas Nico era do tipo "engraçado", e volta e meia surgia pra dar um susto na gente. No começo foi até engraçado (Pelo menos pra mim), mas depois começou a ficar bem chato. Nana ainda estava emburrada, principalmente por causa do tempo - Ela havia colocado duas blusas grossas esperando o frio dos dias anteriores, e, claro, tinha um irmão enchendo a sua paciência.
Até que uma hora Nico parou. Eu e Nana então começamos a olhar a água e, por algum motivo, começamos a brincar de quem contava mais peixes no mar. Era divertido, e ocupou uma boa parte do dia...
... Até Nico voltar com mais um de seus sustos, é claro. Mas agora a gente estava distraído, e fixos na água. O susto foi tão grande, mas tão grande... Que nós caímos da Waterloo Bridge.
Enfim, foi isso que aconteceu. Graças ao meu irmão, nós caímos de uma ponte de mais ou menos 10 metros de altura. "Talvez a água suavize o impacto", eu pensava. Tentei até ajeitar os braços pra ver se conseguia um mergulho de ponta. Enfim, isso não foi necessário, já que tinha um navio passando no momento e eu dei com tudo no convés. Logo atrás, Gui caiu com um bom impacto.
— Ai — ele reclamou — Onde estamos? Posso bater no Nico?
— Pode — eu disse — Mas primeiro, onde estamos? É uma boa pergunta.
Olhei pra cima da ponte, e Nico estava correndo. Torci pra que ele fosse pedir ajuda. Disse á mim mesma mentalmente que se ele estivesse apenas fugindo, eu nunca mais iria olhar na cara dele.
— Isso é um navio, acho — enfim, Gui disse — Bem, provavelmente. Acho que nós poderíamos achar alguém. Talvez eles nos levem de volta á costa.
— Não é má ideia — dei uma olhada pelo convés do navio — Mas não tem ninguém aqui. Devem estar em reunião ou...
— ... Ou talvez seja um Navio Fantasma...
— Não seja ridículo, Gui. Navios Fantasmas não existem. Hey, olhe, tem alguém ali. Vamos chamá-lo!
Enfim, Nico chamou o homem. Ele olhou pra nós com curiosidade, depois com interesse. Tinha um rodo na mão, o que me levou a pensar que era seu dia de faxina, ou que ele era o faxineiro do barco mesmo. Enfim, ele se aproximou de nós, sorrindo.
— Duas crianças, perdidas — ele sorriu mais ainda — O que fazem aqui? Como chegaram?
— Nós caímos daquela ponte — apontou Gui — Por favor, moço, nos ajude. Vocês podem virar o navio de volta para terra firme? Meus pais vão ficar preocupados.
Ele se aproximava, e sorria mais.
— Eu imagino que seus pais estejam preocupados, realmente — o homem com o rodo começou — Mas eu também imagino que essa é uma preocupação que eles vão ter que ter, afinal. E eu imagino que, bem, eu não vou poder levar vocês pra casa — e enfim, o homem levantou seu rodo para o céu, com as duas mãos segurando firme.
E então ele tentou acertá-lo com toda a força na cabeça de Gui.
— GUI! — eu gritei, e pulei, empurrando ele pra longe. Um casaco meu caiu no meio do ar — SEU MONSTRO!
Ele girava o rodo em uma das mãos. Enfim, ele falou — Eu acho que vocês não podem ficar aqui. Negócios são negócios — por fim, ele investiu contra mim com velocidade...
...Mas, por impulso, eu empurrei... Não Nana, mas sim, o homem com o rodo. Ele perdeu o equilíbrio, derrubou o rodo e caiu do barco, em cima de uma pedra, com força.
— Você está bem? — eu perguntei à Nana. Ela estava chorando.
— Estou... O que aconteceu aqui?
— Talvez esse navio seja mesmo fantasma, hey.
Ela suspirou e tentou levantar — Ok, Gui, eu acho que eles não vão nos levar pra casa, e eu não sei nadar. Você sabe? — fiz que não com a cabeça — Muito bem, então... Vamos nos esconder. Alguma hora eles vão ter que parar em algum lugar, não acha?
— Sei lá. Talvez eles vivam no mar — comecei a observar o barco — Acho que não é tão grande, se não não passava por debaixo da ponte — me debrucei na amurada do barco — O nome é Prego e Motor.
— Do barco? Que legal — ela observou o barco — Esse é o Tombadilho, acho. Estudei barcos na escola outro dia, eu entendo um pouco.
— Legal. Mas o que é um Tombadilho?
— A parte mais alta do barco, se não me engano. Enfim, nós devemos nos esconder. Enfim, comer também. Enfim, nós precisamos chegar á terra firme. Enfim, precisamos nos esconder, chegar á terra firme, ficarmos vivos até lá... Enfim, vamos fazer isso agora, então — ela começou a ofegar — Enfim, vamos? En...
— Calma. — Nana tinha a estranha mania de se empolgar em "Enfim" e acabar nervosa assim — Você está certa. Vamos procurar um lugar pra se esconder. Olhe, há alguns barcos de emergência ali.
— Eu não sei dirigir barcos, e nem você — ela parecia mais calma agora — Vamos procurar algum lugar, sem fazer barulho.
Acabamos descendo uma escadaria. Não vimos ninguém pelo barco, mas havia uma movimentação estranha na cabine do capitão. Concordamos que todos deveriam estar ali, menos o pobre faxineiro que nós tentamos o contato.
— Olhe, é a sala do estoque. Aqui eles devem guardar a mercadoria deles. Vamos entrar, eu acho que não vão mexer aqui até chegarem - Nana disse.
— E quando chegarmos no destino?
— Enfim, a gente pensa nisso depois.
Entramos na sala. A sala inteira estava preenchida com caixas.
— Tem algo escrito nessas caixas... "Tabaco"...
— Eles transportam Tabaco, então. O que é isso?
— Eu ouvi falar que era algo ruim. Não sei dizer. Hey, tem jornais no chão...
Nana pegou os jornais e leu. A notícia era de 2009. As reportagens de capa diziam algo como "Traficantes de Tabaco são pegos pela polícia inglesa" "Contrabandistas de Tabaco são liberados por bom comportamento", entre outras coisas relacionadas á contrabando de Tabaco.
— Uma coisa é certa, Gui — ela começou a tremer — Ou esses caras são caçadores de contrabandistas...
— Ou esse aqui é um navio de contrabando. E por isso, acho que não nos querem aqui.
- Capítulo 2 - Ratos no Navio:
- Agora estava frio. Enfim, o inverno inglês decidiu mostrar para que servia e congelar todos os tripulantes daquele navio estúpido de contrabando. Por sorte, eu tinha um casaco.
Infelizmente, eu tinha dois casacos, não um. Enfim, eu o perdi enquanto tentava correr de um maníaco com um rodo e estava sentindo bastante falta dele. Principalmente porque meu primo, Gui, estava congelando do meu lado, e ocasionalmente a gente trocava o casaco. Quando um de nós começava a congelar, o outro dava a blusa.
Nós decidimos nos abrigar na sala do estoque, mesmo. Enfim, Gui acabou derrubando uma das caixas de tabaco por engano uma hora, espalhando o conteúdo dela no chão. Pouco tempo depois, chegou um homem pra fiscalizar a mercadoria (Nós estávamos bem escondido, atrás de um barril). Ele olhou o tabaco no chão, suspirou, levantou a caixa e foi embora. Enfim, nós nos abrigamos naquela caixinha vazia, mas com bastante espaço, e, agora que o conteúdo dela tinha caído, concordamos que ninguém ia ver o que tinha nela.
Enfim, sala do estoque ficava na frente da cozinha, o que era incrível. Descobrimos que, enfim, todo dia, ás 19:00, eles saíam pra fazer uma reunião na Cabine do Capitão, e era nessa hora que nós saíamos para buscar comida. A cozinha ficava embaixo da Cabine do Capitão, enfim, nós conseguíamos ouvir um pouco (bem abafado e difícil) das reuniões.
— ... Stan desapareceu... Blusa encontrada... Rosa... Alguém aqui... — era uma amostra do que a gente conseguia ouvir da cozinha. O suficiente para a gente ficar apavorado, claro — Comida desaparece... Queijo em falta... Ratos aqui... Ratos... Ratos... — e o resto se resumiu á ratos.
Enfim, no dia seguinte, nós encontramos veneno de rato na cozinha. E assim os dias se seguiam...
... Até, é claro, alguma coisa acontecer. Depois de um tempo de alguns dias (Não tínhamos noção do tempo — Só sabíamos do horário da reunião por que tinha um relógio na cozinha), indo pegar comida, Nana ouviu barulhos na cozinha.
— Tem alguém aí, acho — e foi o suficiente para nós voltarmos á Sala do Estoque e comer o que tinha sobrado do dia anterior. No dia seguinte, o barulho continuou.
— Pense, Nana! Se o barulho continua, deve ser algo ligado na cozinha, certo?
— Não sei n... — mas eu ignorei Nana e abri a porta da cozinha com tudo, só pra ver um cozinheiro sorridente lá dentro — ... Gui! Não abra a porta desse jeit... — e ela viu o cozinheiro — ... Ah não...
— Feche a porta — ele disse, e pegou um facão da gaveta. Nana obedeceu.
— Você vai... Você vai matar a gente? — eu perguntei, com lágrimas nos olhos
— Não, não, não — Nana interrompeu — Enfim, desculpe o incômodo. Enfim, nós só estamos de passagem, não se preocupem com a gente. Enfim, tem uma reunião lá em cima, você devia estar lá, né? Opa, enfim, eu não sei de reunião nenhuma. Enfim, esqueça o que eu disse. Enfim, nós não pegamos comida, não estamos aqui á tempo nenh...
— Nana! P-pare. V-você só es-está piorando as c-coisas pra nós.
O cozinheiro começou á girar a faca na mão, semelhante ao que Stan fez com o rodo — Vocês são engraçados. Acho que eu encontrei os ratos de minha cozinha. E estão aqui á tempos, sem ninguém descobrir — ele bateu palmas — Meus parabéns.
— V-você não vai nos matar?
— Não... Bem, não é minha intenção. Desde que encontraram o seu casaco, moça — e ele pegou uma blusa em cima da mesa e atirou para Nana — e que comida começou á sumir daqui, eu comecei á ligar os pontos — ele deu uma risada — Mas não vou matar vocês, moleque. Todos morremos um dia. Não é a hora de vocês.
— Então... V-vai nos levar até terra firme?
— Bem, novas notícias para vocês. Nós estamos muito longe de qualquer terra firme. Estamos rumando para a América Central. Contrabando de tabaco. Eu não ligo muito pra isso, só estou aqui porque eu gosto de navegar e cozinhar, e de facas — ele atirou a faca no chão —, mas não gosto de clandestinos. Apesar de que eu prometi não matá-los, ah.
Nana parecia apavorada. Ambos parecíamos concordar que o homem tinha algum parafuso á menos.
— Já que, literalmente — ele riu — , estamos todos no mesmo barco, eu vou ajudá-los. Vocês querem comida? Peguem. Não vou perguntar onde estão, mas vocês podem vir aqui e pegar a comida. Vocês sabem o horário. Agora, vão, antes que alguém os descubra.
— Muito obrigado — Nana agradeceu — Enfim, por curiosidade... Qual o seu nome?
— Não é necessário. Mas não tenham medo de morrer. Todos devemos partir um dia.
— Ahn, Valar Morghulis. Digo, valeu — e nos encaminhamos de volta á Sala de Estoque
Enfim, os dias se passaram, cada dia com mais comida. Mas Gui estava triste.
— O que há? Somos os ratos deste Navio, lembra? Os ratos que roubam comida — ri — O cozinheiro disse ao Capitão que não tinha conseguido matar os ratos, e que seria difícil isso acontecer. Ele é um cara legal, apesar de bizarro.
Ele enxugou uma lágrima — E de ter um costume estranho por facas. Mas... Eu tenho saudades de casa, você não? Será que nossos pais não se preocupam? Será que algo saiu nos jornais? Será que estão procurando o barco?
— Desde que Nico tenha nos ajudado, sim.
— Sabe, eu acho que foi uma decisão ruim nós termos vindo pra Inglaterra. Nós podíamos ter ido pra América Latina. Com a Margarida, sabe? Ela foi pra lá, num tal Parque das Laranjas Azuis. Parece um lugar legal, não?
— Parece. Mas tudo vai ficar bem. Não se preocupe. Eu também tenho saudades, Gui, muitas saudades, mas... Um dia, tudo isso vai se resolver. Enfim, eu espero.
— Eu também. Vou dar uma volta.
— O QUÊ? Eu não sei se você sabe, mas as pessoas aqui querem nos matar. Não vá, Gui, é sério, você pode morrer.
— Ahn, nem, eu sei me cuidar. Eu peguei uma faca do cozinheiro, qualquer coisa... De cortar manteiga — ouvi ele sussurar pra ele mesmo a última parte. E ele abriu a porta e saiu.
Enfim, eu tomei uma atitude. Como a única pessoa que pensa antes de agir naquele barco, eu decidi ir com ele, para que ele não tomasse nenhuma atitude estúpida. E, enfim, acabamos parando na sala do motor.
— Esse é o motor do navio? — perguntei.
— Não foi você que estudou os barcos? — ele riu — Mas, sim, acho que é. Que bonito.
— Enfim, não sei bem se eu chamo ele de bonit... AI!
— Mas... O que foi?
— Um prego! — peguei ele do chão — Esse danado espetou meu pé! Droga, está sangrando um pouco. Talvez passar água melhore — peguei o prego e joguei longe — Prego estúpido.
— Você é muito rabugenta — ele disse — Vamos voltar ao estoque, então. Lá tem água que o cozinheiro deu. Poxa, mal saímos e já estamos voltando.
— Dói — reclamei — Mas vamos lá, então — e assim, depois de nossa incrível viagem até o motor, nós voltamos ao estoque — Que viagem incrível e estúpida — reclamei — Só serviu pra eu cortar o pé. Devíamos ter ficado aqui.
— Pare de reclamar. Acabou a água, caramba. Vou buscar mais.
— Como assim, você vai buscar mais? O sol está aqui! Deve ser meio dia ainda, aonde você vai?
— Na cozinha, oras. E nem tente correr atrás de mim com esse pé, você só vai piorar as coisas — ele abriu a porta, e foi entrar na cozinha.
Chegando lá, Gui encontrou o cozinheiro e uma pessoa barbuda, e a porta fechou, me negando apenas ás vozes deles.
— Q-quem... É você...?
— Eu sabia que tinha alguém aqui... Você conhece esse cara, Rodrigo?
— Não, Capitão — ouvi barulho de uma faca. Provavelmente, as do cozinheiro. As vozes do Capitão voltaram — O que você sabe sobre o barco?
— Nada! Nada! Não sei nada, não conheço tabaco! — e ouvi o grito do Capitão, e sua voz enfurecida — Ele sabe demais. Prendam ele! Estamos ocupados agora, há um caminho perigoso agora... Deixe-no na minha sala e eu vejo o que faço com ele depois.
E eu ouvi passos pesados subindo as escadas do barco, em direção á cabine do Capitão. E eu, querendo gritar o nome do meu primo, em desespero, mas em um silêncio mudo, pra não ser descoberta também. E o pé continuava a doer.
- Capítulo 3 - A Corda, Acorda:
- O clima continuava frio. Mas, por sorte, eu estava com um casaco agora.
Mas, falando de sorte, era só isso mesmo. Eu havia sido descoberto por um Capitão enfurecido, o Cozinheiro (Rodrigo, não?) me apunhalara pelas costas e Nana tinha metido o pé em um prego e mal conseguia andar.
Eu estava sendo carregado, no ombro do Capitão, para a cabine dele. Eu devia ser realmente leve, já que ele estava subindo uma escadaria relativamente longa e comigo no ombro. Porém, ele não reclamou, o que deveria significar que ele devia ser forte ou eu muito leve. Provavelmente, a segunda.
Por fim, chegamos na cabine do Capitão, que ficava encabeçando a escada — logo que ela acabava já dávamos de encontro com a porta. Ele me atirou lá dentro e fechou a porta. Deu pra ouvir um barulho de trinca, então eu soube que eu não ia poder sair. Assim, decidi explorar a sala.
Achei alguns equipamentos num armário e um martelo, o qual impulsivamente eu comecei a martelar o armário. Infelizmente o martelo escapou da minha mão e voou com tudo para os equipamentos. Torci pra que não tivesse quebrado nada.
E foi assim que meia hora depois eu já tinha amarrado uma corda na frente da porta, tentado arrumar os equipamentos, sem resultado, e naquele momento, eu estava jogando xadrez comigo mesmo. Se bem, me lembro, eu estava ganhando.
E foi aí que eu ouvi novamente o trinco, e a porta se abriu com um estrondo. Com uma veia na testa pulsando de raiva, ele entrou na cabine...
...Pra tropeçar na minha "pequena surpresa" na porta, a corda. Ele caiu com tudo no chão e parecia ter machucado bastante o dente. Com o resto de dignidade que lhe restou, ele se levantou e trancou a porta.
— Então — ele sorriu — Bem-vindo ao Prego e Motor!
— Obrigado — tentei sorrir — Posso ficar vivo?
— Ah, isso vai ser difícil, vai sim — ele começou a andar pela sala, como se estivesse pensando — A questão é que a gente já teve que fazer um desvio de rota por sua causa, amigo. Então digamos que você não me encontra no meu melhor humor... Principalmente com você, depois da sua brincadeirinha.
O Capitão, então, pegou um rádio em uma gaveta qualquer e atirou ele pra mim — Há uma gravação aí, de um jornal que a gente conseguiu pegar sinal alguma hora — ele disse, e clicou no botão de ligar — Escute. Com atenção.
O rádio ligou e começou a chiar — ...falaremos do desaparecimento que comoveu o mundo. Os primos Guilherme e Fernanda, duas crianças da Austrália que desapareceram na última Sexta-Feira, em uma viagem com a família pela Inglaterra... — um longo chiado — ...relatos de que eles caíram da Waterloo Bridge... Nico, o irmão de uma das vítimas, relatou que viu um barco passando na hora da queda e que provavelmente os dois primos caíram dentro deles...
Nessa hora, me veio uma sensação de alívio. Nico pelo menos havia sido legal uma vez na vida e informado as pessoas da nossa queda.
— ...Porém, nenhum barco autorizado era pra ter passado neste momento pela Waterloo Bridge... a polícia faz buscas pelo suposto barco, que, segundo a testemunha, tinha o nome de Prego e Motor... — e aí, por fim, os chiados venceram e a conexão caiu de vez.
O Capitão me olhava com uma cara de quem ia me matar — Então? — ele começou a andar de novo pela sala — A Polícia está vindo atrás de nós. Isso é um navio de contrabando. Se nós formos pegos pela Polícia, estamos mortos. A nossa rota, originalmente para Portugal, teve de ser desviada para não levantar suspeitas. E desde essa gravação, nós estamos vasculhando o barco em busca de dois ratinhos que roubam comida do nosso estoque.
— D-dois? — eu perguntei, tentando disfarçar.
— Você não ouviu a notícia, amigo? Guilherme e Fernanda. Aqui só há um Guilherme, eu presumo. Deve ser questão de tempo até que encontremos a Fernanda. Mas, bem, enquanto isso, a gente pode se livrar de um aqui agora — ele começou a sorrir, e abriu a gaveta, colocando a mão lá dentro... Mas não encontrou o que queria — ...Droga!
— O que... O que...
— Eu esqueci minha faca na cozinha. Mas não se preocupe... Eu volto já. Não saia daí.
Enfim, vamos voltar no tempo um pouco até a parte onde Gui é pego por um Capitão malvado e eu tenho um pé dolorido. Enfim, eu decidi ser sensata (Exatamente o que Gui não foi) e me esconder até a poeira baixar. Então, após isso, o plano era salvar Gui, tentando não morrer no processo.
Depois de meia hora escondida numa caixa vazia esperando as coisas acalmarem (só nesse tempo, cinco patrulheiros foram vasculhar a Sala do Estoque) e morrendo de medo, enfim, eu saí dali. Infelizmente, eu, sozinha, não ia fazer muita coisa. Portanto, fui pra cozinha em busca de ajuda. Por sorte, lá estava o nosso Cozinheiro. Logo que eu entrei, mancando, ele sorriu pra mim.
— Eu acho que não é muito seguro você ficar aqui, Nana.
— Eu também... Porém, eu preciso de ajuda. Preciso resgatar Gui.
Enfim, ele riu — Ah, sim. Uma pequena menina de casaco rosa, querendo resgatar o pobre primo que foi pego pelo Capitão do Navio. Você quer morrer, é isso?
— Todos devemos morrer um dia. Não é o que você diz?
Ele suspirou — Eu e minha boca grande. Fazer o quê. Não vou me voltar contra o Capitão, mas se quiser tentar uma loucura... Pode pegar algumas coisas na Cozinha, caso queira.
— Muito obrigado — enfim, eu comecei a busca. Peguei uma faca, uma corda e uma bacia de batatas que podia ser útil caso eu precisasse de defesa. Coloquei uma bacia de metal na cabeça e enfaixei o pé com umas fitas, e me declarei pronta pra "guerra", enfim. Isso tudo não durou mais que cinco minutos — Até alguma hora, eu acho. E valeu.
— O máximo que eu te desejo é boa sorte. Mas lembre-se de um pequeno conselho que vou te dar agora... Sim, todos devemos morrer, Nana. Mas não é por isso que você deve desperdiçar sua vida.
Assenti com a cabeça, e ele continuou — Além de que, lembre-se de uma coisa... Seja o que você fizer, não vai acabar bem. Em uma das hipóteses, você e Gui estarão mortos. Na outra hipótese, você vence o Capitão e continua se escondendo no barco, porém, com muito mais procura atrás de vocês e sendo mais provável te acharem novamente. Por fim... Se você por alguma sorte acabar matando o Capitão, ninguém irá controlar esse barco. Estamos longe do continente. Então, o que quer que você fará agora, selará nosso destino.
Enfim, ele parecia estar exagerando um pouco no tamanho da coisa. Mas, assenti e agradeci — Eu não sou uma assassina. Qualquer coisa, a gente foge. Nadando, sei lá. Mesmo não sabendo nadar — e subi as escadas, em busca do confronto.
Não havia ninguém por ali, o que era estranho. Provavelmente deviam todos estar concentrados em alguma tarefa séria que eu não dava a mínima. Enfim, eu cheguei até uma porta onde eu deduzi ser "a cabine do Capitão".
Ouvi lá dentro o Capitão gritando com Gui. Pelo menos ele estava vivo. Ouvi um rádio, mas o que estava tocando, não prestei atenção. Estava criando coragem e, enfim, escutei o Capitão dizer que ia na Cozinha pegar uma faca.
E então eu olhei pra porta, olhei pra corda que eu tinha na mão e, enfim, tive uma ideia.
O Capitão estava se dirigindo á porta. Ia abrir ela, me trancar de novo e voltar com uma faca pra me matar. Divertido. Então, instintivamente, eu decidi agir antes que ele fizesse algo... Corri pra cima dele e, num pulo, peguei as chaves do bolso e saí correndo pela cabine.
— Como... SEU BURRO! Volte aqui com essa chave, amigo! — mas, bem, eu não ia voltar, então ele decidiu correr atrás de mim — Amigo, amigo, você está brincando com fogo...
Infelizmente, a cabine não era pequena, então ele ia me alcançar logo. Eu não era muito bom em pensar, mas eu não ia devolver as chaves pra ele. Fiz a primeira coisa que me veio á mente — atirei as chaves pela janela, e vi elas caírem no mar.
Vi apenas a boca do Capitão se abrindo e fechando, o queixo caindo de surpresa.
— SEU MALDITO! — O Capitão começou a respirar fundo, inalando e exalando oxigênio — Ok, amigo. Acha que venceu? Que agora não vou poder te matar porque eu não tenho uma chave? Que você vai fugir? Não, nada disso.
— É? E vai me deixar aqui como?
— Eu vou ali, abrir a porta e chamar alguém pra cuidar de você. Ser sua babá, amigo. Que tal?
Agora eu estava sem palavras. Jogar a chave tinha sido inútil e estúpido. Só tinha me dado uns dois minutos á mais de vida. Eu estava começando a entrar em desespero.
O Capitão ia sair pela porta, até ele rever minha "pequena surpresa" na qual ele já tinha caído, a corda. Ele não tinha desfeito a armadilha.
— Bem, não vamos cair nisso de novo, né? — ele desarmou a armadilha, e, seguro, abriu a porta e foi chamar alguém.
O que ele não esperava é que por algum motivo tivesse outra corda, outra armadilha, agora do lado de fora da porta. Novamente, o Capitão não viu e tropeçou... Mas não caiu no chão. Na frente da porta do Capitão, se encontrava a escada que ia parar na Cozinha, e o comandante do barco rolou escadaria abaixo.
— Mas... Mas... — saí pela porta e olhei para um lado, sem ver ninguém. Olhei para o outro, e vi Nana — ...NANA!
— GUI! VOCÊ ESTÁ VIVO!
Demos um abraço, comemorando a vitória. Então, Nana olhou pra baixo da escada.
— Vamos embora, antes que ele volte. Não se preocupe, eu estou armada, caso algo aconteça — ela tirou uma faca do bolso.
— Mas... Como você sabia?...
— Eu ia invadir a sala com a faca, mas ouvi o Capitão dizendo que ia descer. Pensei em derrubar ele, pegar você e sair correndo, para algum lugar. Enfim, pensando agora, é um plano besta, eu não sei nem pra onde devemos correr...
— Eu não sei nem se devemos correr, Nana. O Capitão não está se mexendo lá embaixo, eu acho. Deve ter desmaiado.
Vimos o Cozinheiro sair da Cozinha, e olhar o Capitão desacordado. Ele deu uma olhada, exclamou um grito e berrou pra Nana — Nana!... Eu sinto em dizer, mas... Eu acho que você conseguiu a terceira alternativa — os olhos de Nana se arregalaram e ela começou a ficar branca.
— Mas... Mas... — ela olhou pra mim — Enfim, nós temos que sair daqui. Enfim, agora. Enfim, enfim, enfim, enfim, enfim, enfim,enfim, enfim, enfim,...
— NANA! Pare com isso, pare, pare! O que está acontecendo? O que é a terceira alternativa?
Mas eu não tive tempo de descobrir. Neste momento, chegou um dos tripulantes do barco. Ele não pareceu se importar muito pela nossa presença. Estava muito preocupado.
— Cadê o Capitão? Ele pode arrumar isso.
— O Capitão... — disse Nana, enxugando uma lágrima — ...Enfim, ele caiu da escada. Acredito que você não vai mais conseguir falar com ele. Qual o problema?
— ...É difícil de explicar, garotinha, principalmente sem o Capitão pra arrumar, mas... O motor está com problemas. Não acho que ele vá aguentar.
— COMO?
— Estamos tentando fazer de tudo pra arrumar, parece que algo entalou fundo lá dentro e está muito difícil de ser retirado. Pelo que nós conseguimos ver... Parece que um Prego está preso no Motor.
Olhei para o pé de Nana e dei uma risada. "Parece um nome apropriado pro barco, afinal"
- Capítulo 4 - Prego e Motor:
- O dia estava bonito, e ENFIM.
Eu estava enlouquecendo, completamente. Eu havia matado um homem. "Eu não sou uma assassina", eu havia dito ao Cozinheiro, mas na verdade, eu era. Enfim, eu estava pouco me importando para o fato de que algumas horas antes, eu também tinha arremessado um prego no motor do barco e agora ele ameaçava parar de funcionar.
— Se fosse apenas isso, menina, estava bom — o homem disse, entrando na sala do Capitão — Mas parece que ele vai explodir.
Enfim, as coisas estavam com uma tendência a piorar.
— Havia alguns equipamentos aqui — ele continuou — Acho difícil, mas... Vocês sabem onde eles estão? Tipo, a gente vai precisar deles se quisermos ter alguma chance de arrumarmos o motor.
— Ahnn... — disse Gui — Eles estão naquele armário, ali.
O homem abriu o armário e lá de dentro tirou um martelo — Quem deixou um martelo aqui? — Gui parecia nervoso, por algum motivo — Aah, aqui estão! Isso vai serv... — e, de repente, os olhos do homem se arregalaram.
— O... O que aconteceu? — perguntei, com medo da resposta, que, enfim, a cara de Gui já parecia me responder.
— ...ISSO ESTÁ QUEBRADO! Como o Capitão mantém algo quebrado no seu armário? Ele quebrou isso?
— Não... — disse Gui, tremendo — F-fui eu. E-eu ar-arremessei o m-martelo para dentro do armário, ele escap-p-pou da minha m-mão...
— AAAAAAAAAAAAH! — Ele arremessou o martelo contra a janela, que se desfez em mil pedaços. Em fúria, veio até Gui.
— Não me at-ataque! Eu, eu, eu... Eu fiz sem querer! Não tive a intenção!
— Assim como não teve a intenção de cair no barco e desviar nossa rota para a América? Assim como não teve a intenção de roubar comida da Cozinha? Vocês dois estão acabando com esse navio, mesmo sem ninguém saber onde vocês estavam.
— Não só isso — eu disse — Nós também matamos o seu Capitão e atiramos o prego no motor. Enfim, espero que você não esteja bravo.
— Vocês deviam ser condecorados por acabarem com o contrabando de uma forma bem inusitada — ele bufou — Mas não vão sobreviver á tempo de ganharem medalhas por isso, se vamos todos explodir. Ou melhor, vocês vão — ele começou a girar o martelo em alta velocidade — Andem para a Sala do Motor e consertem aquilo! Caso contrário... Bom, vocês explodem.
Pelo menos estava quente naquela sala do Motor. Eu gosto do calor. Porém, aquele calor estava indicando que ia tudo para os ares, então não fiquei tão feliz assim.
Eu peguei o martelo do homem ("Pode ficar, eu acho, não vou ter uma utilidade boa pra isso mesmo") e comecei a martelar o motor. O homem não muito gentilmente tirou o martelo da minha mão e mandou eu parar com aquilo.
— Assim você só vai acabar de destruir o motor — mas ele também não sabia o que fazer com o motor — Bem, vocês que se explodam. Nós, da tripulação, vamos para os botes salva-vidas. Se vocês tentarem sair, hm... — ele começou a pensar — ... Um raio cai em vocês. Boa sorte!
Ele saiu e fechou a porta.
— Um raio não vai cair na gente, vai? — perguntei.
— Eu acho que não. Enfim, nem que não caia, a gente não sabe manusear um bote salva-vidas. Eu acho que é bem inútil, enfim.
— Legal. Pelo menos, se a gente consertar o motor, teremos um navio só pra nós! — ri, e Nana riu junto — Bem, é bom ter otimismo.
Tentamos continuar com a martelagem, mesmo sem ter ideia do que carambas estávamos fazendo. Depois de algum tempo, Nana sugeriu a gente tentar achar o prego e tirá-lo do motor, o que, bem, pareceu bem lógico.
— Enfim, se o prego causa o problema, tirar o prego vai resolver ele, não? Enfim, faz sentido.
Nana ficava murmurando "enfim" para si mesma enquanto a gente tentava consertar o negócio. A sala ficava cada segundo mais quente, e eu suava bastante.
Bem, depois de um tempo, a gente achou o prego. Estava preso entre duas "hélices" (Ou seja lá o que for aquilo), impedindo-as de girar. O prego estava muito bem preso, então ele não saía, e as hélices eram resistentes demais pra quebrar. O atrito entre os dois estava fazendo fumaça, e em breve, provavelmente, fogo.
— Achamos o prego! Vamos tirá-lo daí, e ficar com um barco apenas pra nós.
— Enfim, é uma boa id... — Nana parecia pensar — ... Não. Não é.
— Ah, legal, mais uma notícia ruim. Mande.
— Bom, assim que nós tirarmos esse prego, as turbinas vão começar a girar, certo? Eu acho que, se nós não quisermos perder uma mão, não é uma boa ideia, enfim. A não ser que você queira ser o Capitão Gancho, enfim.
— Ahn, eu não quero, obrigado. E agora? Podíamos jogar algo ali, quem sabe não tiraria o prego?
— Acho mais provável que o que quer que a gente atire, fique preso ali também. Ou, caso a gente derrube, as coisas caiam dentro do motor, ficando pior ainda pra pegar, enfim.
— Ou que as hélices destruam o que quer que seja... Ah, bem, se elas não destroem esse prego...
— Exato. Enfim...
— "Enfim"... Se elas não destroem o prego, Nana, como vão destruir a nossa mão?
Isso fez ela pensar.
— É... Você está certo.... Ok, então, vamos pegar esse prego, enfim — ela começou a estender a mão para pegar, mas nesse momento, alguém gritou: — PAREM!
Olhamos para trás... E lá estava ele, nosso amigo Cozinheiro.
— Eu não posso deixar que vocês tentem se matar mais uma vez. Vão, corram daqui! Eu cuido desse motor.
— Legal, muito nobre da sua parte — eu disse — Mas nós não temos como ir embora do barco. Nós não sabemos controlar um barco salva-vidas.
— A gente encaixa vocês em um dos barcos que estão saindo, eles não foram embora ainda. Eles estava arrumando a comida, estão partindo agora.
— E como eu vou saber que você não está nos jogando aos leões? — perguntei — Você não me salvou quando fui pego pelo Capitão.
— Eu não tinha como! É a mesma coisa que trair o capitão. Eu não estou do lado de vocês, não estou do lado do Capitão...
— E mesmo assim está salvando a gente?
— Você não quer viver, é isso? Vão, sumam daqui agor...
— Vocês escutaram ele. Sumam daqui, sumam do meu barco para sempre — outra voz conhecida disse — ... Amigos.
Olhamos para trás, e vimos uma assombração. O Capitão estava vivo, com uma cara bem zangada e um kit de ferramentas, além de uma multidão de tripulantes atrás dele
— Ai, caramba... — eu disse, enfim.
O Capitão estava vivo. Não muito bem de saúde, mas vivo. Capengando, sangrando, possivelmente com dois ou três ossos partidos. Mas, enfim, vivo, e com raiva.
— Vocês me deixaram pra morrer, amigos. Vocês três. A garotinha, Fernanda, acho, me derrubou de uma escada. O moleque ali jogou minhas chaves pela janela e ainda tentou me atirar da escada também. E você, Rodrigo, me largou para a morte para vir cuidar desses dois pestes!
— Eu achei que você tinha morrido! Eu achei...
— Bem, eu já mandei todos vocês saírem daqui. Vão embora do meu barco. Sumam, desapareçam. Eu não vou matar vocês, amigos, vocês devem ser protegidos por alguém superior, porque não morrem. Peguem, sei lá, alguma provisão, se enfiem num bote e sumam da minha vista! Eu consertarei esse negócio, para meus verdadeiros amigos, minha tripulação!
— Mas... Capitão — um deles disse — Sua condição... Você consegue?
— Está duvidando da minha capacidade? Claro que sim, amigo! Só, alguém, por favor, tire esses daí da minha vista. Eu tenho trabalho á fazer.
Fomos, enfim, para a área dos barcos. Eu e Gui estávamos felicíssimos da expectativa de sairmos dali e, talvez, ir pra casa. O Cozinheiro, já, não tanto.
— O que é que eu faço agora? — disse ele, girando uma faca — Nem fui pago ainda pela missão.
— Pense pelo lado bom. Você não vai mais contribuir para o Contrabando!
— ... E só. Quem sabe se eu usar essa faca, e tomar o barco pra mim...
— Não! — falamos em uníssono, enfim. Não era uma boa ideia, mesmo.
Pegamos algumas provisões na cozinha e fomos levando para o barco. "Acho que, no mar, não vamos precisar de água", Gui brincou, mas eu expliquei que a água do mar não era exatamente pura e própria para o consumo pra ele. Enfim, pensando bem, acho que isso foi muito chato.
Enfim, nós acabamos os preparativos. O Cozinheiro sabia manejar o bote, então não tínhamos muito a temer. Embarcamos nós três no barco e o Cozinheiro estava girando uma manivela para o bote ir descendo lentamente, até chegar na água, ele pular lá e nós irmos embora tranquilamente. As provisões já estavam lá dentro, enfim.
Mas quando ele estava girando a manivela, olhamos para dentro da Sala do Motor. As pessoas corriam, gritavam e saíam lá de dentro.
— Enfim, o que está acontecendo... — eu disse.
— Eu não sei, mas parece que algo deu errado — o Cozinheiro disse — Não saiam daí...
Mas então, alguém saiu correndo daquele espaço, gritando, para nossa informação — FOGOO! TODOS, CORRAM DAQUI! O NAVIO VAI EXPLODIR!
— O QUÊ? — o Cozinheiro gritou. Nisso, o Capitão saiu da sala, inalando fumaça.
— VOCÊS! Vocês são a maldição desse navio, enquanto vocês estiverem aqui, amigos, nada dará certo! Eu não ligo mais se matar vocês está fora de questão, eu vou ACABAR com vocês, AMIGOS!
Enfim, um reflexo de dúvida passou pelo rosto do Cozinheiro. Ele, então, pegou a faca... E, com uma rapidez incrível, cortou a corda da manivela e entrou em posição para lutar contra o Capitão, enquanto nosso bote caía para o oceano.
— Cozinheiro! — gritei — Enfim, não abandone a gente, enfim, nós precisamos de você...
Algumas provisões caíram do bote na queda para o oceano. Pelo menos um cacho de bananas em ótimo estado foi para o fundo do mar. Gui estava apavorado, e eu não estava menos.
E, enfim, o barco explodiu.
- Capítulo 5 - Carpe Diem:
- O dia estava muito bonito. Perfeito para qualquer coisa, menos estar num bote com um navio afundando atrás. Nós continuamos fortes em cima do bote, mas não seguros.
Partes do barco voavam por cima da nossa cabeça. Um prego voou em alta velocidade a um palmo do meu pescoço. Algumas pessoas e corpos caíam na água... Era uma visão assustadora. O impacto criou ondas fortes, que nos levavam embora, mas por algum motivo, ficávamos.
— O barco, quando afunda, suga tudo em volta para o fundo. Enfim, Gui, tente remar, não sei como, mas nós não vamos sobreviver assim!
... E aí, um pedaço de madeira atingiu Nana na nuca. Ela caiu do bote e afundou, para o fundo do mar, para o fundo do oceano. Eu arranquei minhas mãos da água e gritei, em desespero.
— NANAAAA!
Não houve resposta. Entrei em desespero, e comecei a tentar pegar impulso para me jogar na água e tentar fazer algo de útil, mas... Por sorte, nesse momento, alguém vivo emergiu da água e se agarrou na amurada do bote. Era o Cozinheiro.
— Você não morre, mesmo? — pareceu meio rude, mas eu estava apavorado.
— Hey, eu salvei sua vida mais de uma vez... Algumas pessoas estão vivas, mas estão afundando. Vocês têm o único bote... Espere, onde está Nana?
— AFUNDANDO! ELA CAIU DO BARCO! — eu gritei, agora com lágrimas.
— COMO? — ele hesitou por um segundo — Eu vou pegá-la. Fique aqui, não saia daqui! — ele tirou algo do bolso — Tome isso. Se alguém te ameaçar, use isso!
Era a faca dele, a lendária faca que já nos tinha salvado a vida.
— Mas... Você vai morrer! Ela já está funda demais!
Ele sorriu, um sorriso que indicava que ele sabia disso. O Cozinheiro pegou uma garrafa pet dos nossos suprimentos que haviam caído na água, despejou o que tinha dentro na água e mergulhou.
O bote estava indo para trás, o barco sugava ele. Eu havia parado de remar com o susto, e estava pagando por isso.
— Se for para vocês voltarem — eu disse — deve haver um bote para vocês voltarem — e assim, comecei a remar, com toda a força que eu tinha e mais o que não tinha, torcendo e na espera que Nana re-emergisse da água.
Bem, eu não sei se Gui citou, mas eu estava afundando. E rápido. Enfim, e eu não sabia nadar também. Era a combinação perfeita para o que, enfim, tinha sido um dia perfeito.
Gui dizia que sou inteligente. Até hoje ele diz isso. Provavelmente porque, enfim, é verdade. Mas nenhuma dessa inteligência poderia me salvar quando estava afundando, em pânico, para o fundo do oceano. Eu fui tentar gritar, o som mal saiu, mas a água entrou.
Eu ainda estava segurando o ar, portanto, não estava me afogando, apenas batendo as mãos e os pés descontroladamente dentro da água. Vi pessoas, cada vez mais longes, nadando acima de mim. Lá longe, o Prego e Motor submergia, para sempre, junto com toda a sua carga de contrabando.
Comecei a perder a consciência. Tudo o que eu via eram vultos, e esses vultos, cada vez mais negros. Eu já não me movimentava mais, e meus olhos não focavam em nada. O ar entrava pelas vias aéreas, e eu submergia, submergia, submergia.
Alguém me alcançou. Eu não lembro quem, mas acredito que até você que está lendo consegue imaginar. O alguém também estava se afogando. O homem colocou uma garrafa pet na minha boca e começou a me puxar pra cima. Puxar, puxar, puxar, enfim, puxar.
E quando eu me dei por mim, eu estava de volta á superfície. O homem não estava mais comigo. Outra pessoa, mais nova, me pegou e me jogou num barco. O barco foi embora, junto com a água. Uma garrafa pet foi colocada sobre meu nariz. Senti empurrarem meu peito, medirem meu pulso.
E, enfim, apaguei.
O nosso bote viajava pelo mar afora sem nenhum senso de direção.
Nana estava viva. O Cozinheiro usou suas últimas forças para conseguir trazer Nana de volta, com ajuda da garrafa de oxigênio, mas ele mesmo não resistiu. Seu último suspiro foi empurrar Nana para a superfície, e afundar, para sempre, para o fundo do oceano.
Ele salvou Nana de afundar, e afundou ele mesmo. É até poético. Depois de colocá-la no barco, verifiquei o pulso, que estava fraco, mas não chegava ao ponto de uma Parada Cardio-Respiratória, ou seja, sem pulso, mas viva. (Eu li esse nome na internet depois, por curiosidade)
Ela desmaiou e ficou assim por um bom tempo. Torci para que alguma corrente marítima tivesse pego o bote e estivesse levando ele para terra firme. Os suprimentos não tinham todos submergidos, ainda havia o suficiente. Abri uma garrafa de refrigerante, me apoiei na amurada do barco e fiquei lá, vendo o mar e a noite. Já tinha sido suficientemente difícil remar com força o suficiente para o bote não afundar enquanto eu esperava Nana...
— Gui?
Olhei pra trás. Nana, por fim, tinha acordado. Estava meio zonza.
— Nana! Ainda bem, você está viva! — dei um abraço de felicidade na minha prima.
— Onde... Enfim, onde nós estamos?
— No meio do oceano. O Cozinheiro salvou você de afundar, e cá nós estamos.
— O Cozinheiro... Onde ele está?
Não respondi, apenas abaixei a cabeça. Ela piscava o olho, de sono, mas ainda assim abriu a boca de espanto quando entendeu.
— Ele... Ele...
— Ele... Não sobreviveu... O último ato dele foi salvar você, Nana. Ele impediu você de afundar, para afundar ele mesmo.
Nana começou a chorar. Continuei fitando a noite e a lua no céu. Eu também estava com vontade de chorar, ali.
— Enfim... — ela disse, enxugando uma lágrima — Para onde estamos indo? Estávamos no meio do Atlântico, rumando para a América Central, correto?
— ...Correto, eu acho... O Cozinheiro disse isso uma vez.
— O que provavelmente indica, enfim... — ela começou a pensar — Que nós estamos na Corrente Sul-Equatorial. Ela vai desembocar nos Estados Unidos, o que não vai ser um problema, já que, como nós, o resto da Austrália e da Inglaterra, eles falam Inglês.
Agora eu parecia meio tonto.
— Como você sabe de tudo isso?
— Bem, eu estudo nas horas vagas.
— Está decidido. Se a gente voltar para casa, no seu próximo aniversário eu vou te dar um videogame — ela riu.
— Bom... Alguma hora chegaremos lá — ela parou de repente — O que é isso, no seu bolso?
Olhei. Era a faca do Cozinheiro.
— É a faca...? — ela continuou.
— Ah, sim, ele me deu isso. Pra me proteger de ameaças, algo assim — sorri — Vou guardar isso, sempre. Quer dar uma olhada?
Assim fomos de viagem, esperando chegar. Dias se passaram, talvez semanas. A Corrente Sul-Equatorial levava a gente e nosso bote para onde as águas nos levassem. O mar ás vezes estava agitado, mas, por muita sorte, nada nos aconteceu.
Até que uma noite, enquanto dormíamos no bote... O barco bateu em algo. Levantei, e dei uma olhada. Era areia.
— Areia...? — disse, sonolento — De onde veio essa areia...?
E então, a ficha caiu.
— AREIA! NANA! NANA! ACORDE! AREIA! — eu gritei, desesperado. Nana acordou num salto — OLHE ISSO!
— Areia...? AREIA! TERRA FIRME!
Batemos na porta da primeira casa que encontramos de frente ao mar. Não tínhamos ideia de onde estávamos, só sabíamos que era terra firme, era vida, e que alguém devia estar ali. Alguém abriu a porta.
— Boa noite? — a pessoa disse, sonolenta.
— Boa noite... Hã, exatamente, que horas são?
Ele me olhou com uma cara que gritava "você me acordou a essa hora da manhã pra perguntar as horas?", mas mesmo assim respondeu — Duas. E meia.
— Aaahn... — Nana respondeu — Enfim, sinto muitíssimo por te acordar num horário como esse. É, que, bem, nós estamos perdidos.
O homem resmungou algo como "eu já vi vocês em algum lugar", deu um bocejo e disse — Querem um telefone emprestado? Ligar para o pai de vocês?
— Enfim, isso não vai dar muito certo. Nós meio que moramos na Austrália. Nós caímos de uma ponte, alguns meses atrás, em um barco de contrabando. Enfim, o barco explodiu e nós provavelmente somos os únicos sobreviventes. Escapamos naquele bote ali, ó.
Ele parecia raciocinar. Então, arregalou os olhos.
— Vocês não são... Aqueles meninos do jornal, que caíram da ponte, na Inglaterra...? O mundo inteiro estava falando de vocês...
— Isso, isso! Somos nós! Você pode ajudar a gente, enfim, por favor?
Enfim, a partir daí, as coisas melhoraram.
O homem (Seu nome era Malcolm) sugeriu ligar, então, para a imprensa. Assim seria mais fácil de localizarem a gente pelo mundo. Aceitamos a ideia, e ligamos. Em menos de dez minutos, a imprensa inteira já estava na frente da casa do homem.
Ao longo dos dias seguintes, contamos nossa história diversas vezes para a imprensa americana (Eu realmente acertei, estávamos nos Estados Unidos), falando sobre a aventura que tivemos, sobre a nossa sorte, sobre o nosso amigo Cozinheiro. A faca dele foi fotografada pelo menos umas cem vezes.
Estávamos em todos os jornais, e depois de três dias, nossa família chegou. Foi um reencontro lindo, enfim, digno de novela (Principalmente pelas câmeras filmando a gente). Meus pais choravam, e os de Gui também. Enfim, Nico também estava lá, e eu lhe dei um abraço apertado, e agradeci por ter avisado todo mundo da nossa queda.
— Se não fosse por você, não estaríamos aqui agora.
— Se não fosse por mim, vocês não teriam nem caído da ponte — enfim, dei um tapa nele.
As próximas semanas foram maravilhosas. Nossos pais nos levaram, em comemoração por estar tudo bem, ao Parque das Laranjas Azuis, o maior da América Latina. Minha prima, Margarida, já tinha ido pra lá antes, e ela disse que era incrível. Era mesmo, enfim. Conhecemos até um pipoqueiro que se escondia nas árvores.
Depois de alguns dias de passeio, voltamos pra casa, para a Austrália. Nossa chegada foi repleta de câmeras, enfim, mas elas sumiam dia após dia. Vivemos uma vida normal, eu, Nico, e meus pais. Gui também viveu uma vida normal com os pais dele. Ah, sim, algum tempo depois, a gente teve a ideia de escrever esse relato.
Atualmente, as coisas são diferentes aqui na Austrália. O clima é de revolta, parece. Enfim, parece que alguma hora alguém vai tomar o poder e fazer o caos no país. Gui virou médico, inspirado pelas suas habilidades em me salvar no bote. Nico virou químico, parece estar interessado em achar o elemento 200 da Tabela Periódica.
E eu? Inspirada também na nossa viagem, virei Geóloga. Daqui algum tempo, farei uma viagem para o exterior, examinar a geografia do nosso mundo mais á fundo. De barco, claro.
A vida segue, e continua normal, por enquanto. Mas a história não vai mudar e não vai deixar de ser verdadeira. Por isso, decidimos escrever esse relato. Estamos acabando por aqui. Se você leu até aqui, muito obrigado.
Eu também dou obrigado! Agora vamos colocar isso num concurso de histórias, vejamos se a gente ganha.
Enfim, por enquanto é só. Se a gente fizer alguma coisa estupidamente inútil, vamos tentar colocar em livro de novo, apesar de eu achar difícil de acontecer algo dessas proporções novamente.
A história sobre dois passageiros clandestinos num barco acaba aqui. A nossa história, daqui pra frente, ainda estamos construindo. Vamos ver no que dá, enfim. Como bem disse o Cozinheiro, todos os homens devem morrer...
...Mas não é por isso que você deve deixar de viver. Carpe Diem!
Espero que tenham gostado. Tive que refazer o capítulo inteiro, pesquisar sobre barcos, alguma ponte na Inglaterra que não tivesse proteção e que passasse pessoas, a planta de um Navio... Enfim, espero que esteja bom ^^' - E se não estiver, diga, critique, chute o pau da barraca, xingue! O importante é a sua opinião, acho.
(Mas, ao invés de xingar e falar mal, você pode ajudar falando no que a história pode melhorar ^^' )
Enfim, até o próximo capítulo!
Última edição por Felipefabricio em Qui 05 Jun 2014, 20:42, editado 4 vez(es)
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