Olá galera, apresento aqui a minha fanfic para o fic contest nintendo blast. É a primeira vez que eu escrevo, então talvez não esteja tão bom assim, mas ainda assim espero que gostem!
Não postarei em períodos regulares porque estou em período corrido na faculdade. Mas se tudo der certo posto tudo até o fim do prazo.
(E eu realmente sou péssima para decidir títulos na moral)
Não postarei em períodos regulares porque estou em período corrido na faculdade. Mas se tudo der certo posto tudo até o fim do prazo.
A Princesa e as 5 Bonecas
- Capítulo 1:
Eu tive um sonho estranho.
Nesse sonho, eu era uma garota que tinha tudo para ser chamada de bela. Cabelos loiros, longos e ondulados uniformemente. Meus olhos, azuis como safiras e minha pele clara, macia como veludo. Eu me olhava no espelho e achava que eu era uma princesa que tinha saído de um conto de fadas. Mas parece que eu realmente era uma. Eu morava em um castelo e as pessoas sempre me chamavam de “senhorita”. Mas é muito estranho, eu não agia como uma princesa.
Eu tinha medo de tudo. Medo de sair de casa, medo de falar com as pessoas, medo de pedir coisas...
“Eu vou ficar bem?”
“O que eles vão pensar de mim?”
“Será que eu serei um incômodo?”
Esses pensamentos invadiam a minha cabeça sempre que eu tentava pisar para fora do meu quarto. E eu odiava isso.
Odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava!
Eu queria mudar, eu queria agir! Mas é impossível, esse meu medo me invade como se fosse uma maldição, não importa o que eu tente! Eu vou ficar assim para sempre?! Alguém por favor me ajude!
E então, um dia aconteceu.
Parecia ser um dia como qualquer outro, mas todos estavam reunidos no salão principal do castelo para ver as duas comerciantes que vieram vender tecidos para o rei. Elas eram idênticas. Ambas possuíam longos cabelos prateados e vestiam longos vestidos cheios de babados, como se fossem duas bonecas. Elas não conseguiram vender nada, entretanto, quando saíram do salão, elas me viram escondida atrás de um pilar ao lado do portão. Eu não conseguia chegar perto da multidão dentro do salão. Mas por esse mesmo motivo, ninguém percebeu quando as duas irmãs chegaram perto de mim.
Eu não conseguia reagir, estava paralisada de medo. Eu fiquei ali, com uma expressão aterrorizada, com lágrimas caindo dos meus olhos. Mas parece que as duas mulheres acharam graça disso. “Coitadinha” elas disseram. E isso só me deixou mais frustrada. Eu queria mudar, eu queria que as pessoas parassem de ter pena de mim. Eu realmente queria que essa medo fosse embora.
“Então que tal se livrar dele?”
Eu reagi instantaneamente àquelas palavras. Eu nem tinha percebido que elas ainda estavam olhando para mim. Como sabiam o que eu estava pensando? Infelizmente elas não responderam a essa pergunta. Mas não importa. Se é possível eu tirar essa maldição de mim, então eu faria qualquer coisa.
As duas moças me deram uma agulha de costura. Era fina, mas era possível ver que ela era completamente transparente.
“Costure uma boneca com essa agulha. Ela realizará o seu desejo.”
Falando somente essas palavras, as gêmeas se retiraram do castelo.
Eu não perdi nem um minuto. Enquanto as pessoas ainda estavam dentro do salão principal eu corri para a sala de costura, peguei tecidos e linha e me tranquei no quarto novamente. Passei a linha pela agulha e comecei a costurar. Quando percebi, a boneca já estava ganhando forma.
O tecido estava se transformando em um gato de tecido roxo. Bordei os olhos com linha preta e fiz o mesmo para o nariz. No entanto, eu não fiz uma boca para ele. No lugar, costurei suas patas dianteiras em cima de seus olhos, como se ele estivesse escondendo seu rosto de medo. Com isso, a boneca estava praticamente pronta.
Tudo o que faltava era cortar a linha que ligava a boneca à agulha.
Respirei fundo. Será que isso realmente vai dar certo? Mas só de sonhar em uma vida sem aquele medo dentro de mim já me enchia de esperança. Abri a boca:
“Livre-se do meu medo!”
Dizendo isso, eu cortei a linha com meus dentes. Porém, após isso, minha visão começou a escurecer...
E eu adormeci.
- Capítulo 2:
- Eu sou perfeita.É o que dizem para mim. Que eu sou corajosa, que eu sou gentil, que eu tenho o sorriso mais lindo do reino... Todos repetem isso para mim todos os dias. Meus pais, as empregadas, meus amigos... Mas eu nunca tive nenhum tipo de problema com isso. Muito pelo contrário...Eu fico feliz.É assim que eu percebo as pessoas que me amam e confiam em mim. Isso é a coisa que mais me mais me deixa feliz! E não me importa se essa felicidade me faz parecer uma garota perfeita. Minha vida é perfeita por causa dela!Mas... só há um pequeno probleminha...“Bom dia senhorita. Agora você está realmente perfeita!”“Ora se não é a nossa princesa sorridente. Agora nosso reino está em boas mãos.”“Normalmente eu diria para você não esquecer suas obrigações, mas agora você está muito bem.”“Agora?”Por que usam essa palavra? Parece até que eu já fui outra pessoa. Eu sempre fui assim, não fui? A única coisa que não me lembro de ter feito... Era ter comprado uma certa boneca que fica na estante do meu quarto. Meu quarto sempre foi um local alegre, com predominância de cores claras entre os móveis e bonecas sorridentes enfeitando minha única estante com portas de vidro, que ficava ao lado da janela. Mas aquela boneca era a única exceção à regra. Era um gato roxo, sem boca, com as patas dianteiras costuradas aos olhos. Por que eu teria um negócio desses? Quando eu olho para ela de perto parece até... que ela está tremendo. É bizarro.“Parece até que ela está com... com... com o quê?”Estranho... a palavra está na ponta da minha língua... mas não consigo me lembrar. A sensação que essa boneca me passa... é familiar, mas eu não me lembro de já ter passado por isso.“...”“... Bem, não importa.”Dizendo isso, saí do meu quarto, desci as escadas que davam para o primeiro andar do castelo e, depois de avisar às empregadas, saí para encontrar com meus amigos.Nosso reino é lindo. É formado por uma pequena cidade especializada em comércio, que vende todos s coisas que puder imaginar. As casas, pintadas geralmente de cor clara, causam um clima muito alegre durante o dia. E, conectada a ela por uma longa ponte de pedra, o castelo onde moro e de onde eu estava saindo agora. Cercado por água, ele tem um ar completamente majestoso!Cumprimentando os guardas, passei pelo portão que separa a cidade da ponte e entrei na cidade. Eu iria encontrar com meus amigos na grande praça no centro da cidade. No caminho, eu ainda passei por vários comerciantes vendendo seus produtos, que sempre me cumprimentam com um sorriso.Usando um beco como atalho, cheguei rapidamente à praça e logo vi o pequeno grupo de crianças, perto de onde eu estava. Mas elas estavam de costas para a saída do beco e não me viram. Eu acidentalmente ouvi parte da conversa.“Ela é realmente perfeita, não é? Linda, inteligente, corajosa...”“É verdade... mas ela não é perfeita demais?”Eu estava pronta para levantar meu braço e chamá-los. Mas eu hesitei depois de ouvir essas palavras.“Como assim?”“Ela se sai bem em tudo! Até quando brincamos, ela sempre ganha! E depois fica somente rindo, como se não fosse nada! Ela parece que vive só no mundo dela...”“Para falar a verdade, eu tinha ouvido boatos de que antes ela ficava trancada o dia inteiro no castelo. Eu duvido que ela entenda como pessoas como nós nos sentimos.”Eu cerrei os punhos. É isso que pensam de mim? Que a minha “perfeição” os atrapalha? Do que estão falando, são vocês que me chamam de perfeita em primeiro lugar! São vocês que dizem que eu sou diferente por causa disso! Eu nunca me considerei assim!Eu abaixei a cabeça e me virei de volta para o beco. Eu não queria mais vê-los.No caminho de volta para o castelo, eu passei por outra rua comercial. Respirei fundo e cumprimentei os comerciantes como sempre, com um sorriso no rosto. Porém, eu diminuí o meu passo. O que eles falavam depois que eu ia embora?“Essa é a princesa perfeita, não é? Está sempre sorridente e alegre...”“Essa perfeição é o que me assusta. É esse tipo de nobre que costuma nos ignorar e governar de acordo com seus próprios interesses. Eles não enxergam o nosso lado.”“Será? Mas...”Eu já não estava mais perto o suficiente para ouvir o resto. Mas isso já foi o suficiente.É isso que as pessoas falam de mim quando não estou presente? Aquela conversa de que eu sou a garota que todos queriam que eu fosse era mentira o tempo todo? As pessoas que eu achava que me amavam... isso era só coisa da minha cabeça? Eu vivi uma fantasia esse tempo todo?Eu olhei novamente para as ruas cheias de gente que eu achava que conhecia. Mas agora todos pareciam completos estranhos.Eu corri de volta para o castelo e me tranquei no quarto. Eu não queria ver mais ninguém. Enrolada nos cobertores da minha cama, pensamentos surgiam o tempo todo em minha cabeça.Eu sou perfeita demais para ter amigos?Eu sou perfeita demais para herdar este reino?Eu sou perfeita demais até para serem sincera comigo?Se eu não fosse perfeita assim, tudo seria diferente?“Então é melhor que eu não seja desse jeito, não é?”Assim que eu murmurei isso, uma voz apareceu como um flash em minha mente:“Costure uma boneca com esta agulha. Ela realizará o seu desejo.”Inconscientemente, peguei uma agulha que estava no bolso do meu vestido. Desde quando ela estava aqui? Levantei-me da cama e fiquei olhando para ela. A agulha brilhava com uma cor roxo-escura.Eu posso realmente realizar um desejo com isso? Pensando nessas palavras, eu peguei alguns tecidos que eu tinha no meu quarto e comecei a costurar. O tecido começou a tomar a forma de uma garotinha de tranças loiras, vestida completamente de verde, com um lindo sorriso bordado em seu rosto. Um sorriso perfeito para carregar a minha perfeição.“Seja lá o que faz os outros me acharem perfeita, tire isso de mim!”
Eu cortei a linha de costura com os dentes... e então adormeci.
- Capítulo 3:
“Senhorita você está bem-“
“CALE A BOCA!”
Gritando, eu joguei um dos meus travesseiros na porta assim que ouvi uma das empregadas batendo na porta do meu quarto.
“DEIXE-ME EM PAZ!”
Vocês são todos mentirosos. Simples desconhecidos usando máscaras. São todos personagens de uma peça. Este lugar também é só um cenário. É tudo uma ilusão, nada é de verdade.
E eu odeio isso.
Odeio este lugar.
Odeio essas pessoas.
Vocês poderiam simplesmente sumir. Eu não me importaria.
Eu quero somente me trancar em um lugar diferente deste maldito mundo. Mas não adianta. Este quarto também não serve. Essas cores claras, essa organização dos móveis... tudo transmite a mesma sensação que o lado de fora. Uma sensação estranha... mas que me deixa enfurecida.
“Droga!”
Irritada, eu me joguei na cama e me virei para o lado, me cobrindo com os cobertores. Mas isso também não me ajuda a escapar. Elas continuam me encarando... as bonecas que ficam trancadas no armário de vidro. A expressão daquelas bonecas... é a mesma expressão daquelas malditas máscaras. Esta sensação... é a mesma sensação que este maldito mundo transmite. E ISSO REALMENTE ME IRRITA!
“AAAAAHHHHHHHHH”
Gritando, eu me levantei da cama correndo e abri a porta do armário com um estrondo. Uma a uma, eu comecei a rasgar o rosto de todas as bonecas do armário.
“SUMAM, SUMAM, SUMAM, SUMAM! DESAPAREÇAM!”
Quando reparei, o chão já estava coberto de corpos sem rosto. E faltavam somente duas bonecas. Mas... eu não senti vontade de rasgá-las.
Uma das bonecas que restaram era um gato roxo. Era a única boneca com uma expressão diferente das outras. Ou melhor, ele não tinha expressão nenhuma. Só cobria o rosto com as patas. A sensação que ela me transmitia... não era a mesma deste mundo. Eu não senti vontade de rasgá-la. Então só a tirei do armário e a joguei no chão. Mas a outra boneca... era uma menininha de roupas verdes, que tinha uma expressão igual às outras. A sensação que ela transmitia também era a mesma Mas, por algum motivo, ela me dava mais raiva do que qualquer uma.
“Eu realmente quero te rasgar...”
Eu estendi minha mão para pegá-la, mas eu parei bem à frente de seu rosto. Espetada no seu vestido... estava uma agulha brilhante. Palavras começaram a surgir na minha mente:
“Costure uma boneca com essa agulha. Ela realizará seu desejo.”
É isso.
Ignorei a boneca e peguei somente a agulha, que alternava entre uma cor roxa escura e uma verde. Usando um tecido vermelho, costurei um coelho vermelho, com uma expressão fechada. Os olhos negros e raivosos tinham órbitas amarelas em forma de agulha e a boca mostrava dentes pontiagudos. Quando a boneca já estava pronta e faltava apenas cortar a linha, eu sussurrei:
“Que todos neste lugar desapareçam.”
Cortei a linha, e caí no sono.
...
“O que aconteceu?”
Foi a primeira coisa que falei para mim mesma quando acordei no chão de meu quarto e vi várias bonecas caídas no chão. Todas elas estavam com as cabeças rasgadas, com o enchimento saindo pelos seus rostos. Apenas duas estavam inteiras, jogadas próximas à porta, que estava fechada. Uma era um gato roxo com as patas costuradas aos olhos e a outra era uma menina vestida de verde, com os braços envolvendo o gato, como se estivesse o abraçando. Quando me aproximei reparei que, atrás das bonecas, havia um líquido vermelho entrando por baixo da porta, formando uma poça.
“O que... é isso?”
Fazendo diversas perguntas na minha cabeça, eu abri a porta. Atrás dela, eu vi uma das empregadas do castelo deitada no corredor em frente à porta do meu quarto. Olhando mais de perto, percebi que seu rosto havia sido retirado, e dele estava saindo o mesmo líquido vermelho que formou a poça no meu quarto.
“Mas o que...”
Paralisada ao lado do corpo, eu comecei a me sentir perturbada. Era como se meu corpo estivesse procurando alguma coisa dentro de mim. Meus pensamentos começaram a ficar confusos. O que eu deveria sentir?
Sem esboçar nenhuma expressão, eu comecei a andar pelo castelo, procurando por alguém. Mas eu só via a mesma cena. Em todos os cômodos, em todas as salas... eu só via corpos sem rosto encharcados de sangue. E, a cada vez que eu via a mesma cena, minha cabeça ficava mais confusa e eu começava a tremer. Era como se meu corpo estivesse gritando que algo estava errado comigo.
“O que... está acontecendo?”
Minha cabeça já estava tão enevoada que parecia que meu corpo estava se movendo sozinho. Quando percebi, eu já tinha saído do castelo e estava andando em direção à cidade. Mas o cenário continuou o mesmo. Homens, mulheres, idosos, crianças... todos se tornaram cadáveres sem rosto. Alguns estavam no chão, outros debruçados em janelas ou em bancas de produtos que deveriam estar à venda. Eu já estava tão perturbada que não conseguia mais andar direito.
Eu continuei andando até a praça principal. Quando cheguei lá, eu vi uma boneca, sentada, no meio da praça. Era um coelho vermelho, de expressão fechada, com olhos amarelos. Eu me aproximei da boneca, porém, quando a segurei, reparei que ela estava pesada e molhada. E o líquido que pingava dela era o mesmo líquido vermelho que saía dos corpos. Era sangue. Logo depois eu reparei que, atrás dessa mesma boneca, no chão, havia uma faca coberta do mesmo líquido. Nesse momento, percebi que eu havia parado de tremer.
Era como se meu corpo, que passou tanto tempo procurando a reação certa que eu deveria ter todo esse tempo, tivesse desistido. Minha perturbação sumiu e eu comecei a esboçar no meu rosto sem expressão o único sentimento de que eu podia me lembrar. Lágrimas começaram a cair dos meus olhos.
“Por que... POR QUE POR QUE POR QUE POR QUE????!!!!”
Somente agora eu havia percebido. Eu perdi tudo. Família, amigos... todos estavam mortos. E eu não sabia o porquê. Tudo o que eu conseguia fazer era gritar e soluçar por estar sozinha no mundo.
“Eu os quero de volta...”
De repente, ouvi palavras em minha cabeça.
“Costure uma boneca com essa agulha. Ela realizará o seu desejo.”
Eu levantei a minha cabeça assim que ouvi essas palavras. Mas não tinha ninguém. Só havia o coelho em minha frente. Mas ele tinha algo na pata que não estava ali antes.
Eu retirei a pequena agulha da pata da boneca e comecei a observá-la. Ela variava entre as cores roxa, verde e vermelho, embora parecesse que elas estavam tentando se unir em uma cor só.
Ainda soluçando, eu me levantei e andei para dentro da cidade. Peguei um tecido azul e linha nas primeiras lojas que vi e comecei a costurar um cachorrinho de orelhas caídas. Costurei nele uma feição triste e fiz questão de fazer uma lágrima em um de seus olhos. Quando cortei a linha da agulha ao terminar a boneca, eu disse as seguintes palavras.
“Traga todos de volta!”
E adormeci, com lágrimas ainda em meu rosto.
- Capítulo 4:
“Senhorita, o que aconteceu com você?”
“O que quer dizer?”
“A senhorita não se expressa mais. Não sorri, não entristece... Aconteceu alguma coisa?”
“Desculpe, mas... eu não entendo o que quer dizer.”
“E-Entendo...”
Dizendo isso, a empregada se retirou do quarto.
Todos me perguntam a mesma coisa. Dizem que eu não fico feliz, nem triste, nem brava, nem com medo... que fico somente com a mesma expressão imparcial o tempo todo. Dizem que antes eu era linda como uma boneca, mas que agora eu realmente me tornei uma boneca.
Mas eu falo sério, eu não entendo.
Medo, felicidade, raiva, tristeza... eu não entendo nem mesmo o significado dessas palavras. Mas as pessoas me dizem que eu costumava expressar essas “emoções” ou “sentimentos”, mesmo que apenas um branco viesse à minha mente quando eu tentava lembrar tais momentos. Entretanto, é estranho. Essas palavras me parecem familiar ao mesmo tempo em que eu não me lembro delas. Será que... eu realmente já fui de um jeito diferente do que sou agora?
Sentada em uma poltrona ao lado da estante de livros, eu olho para as quatro bonecas que ficam em cima da minha cama. Ouvi dizer que eu tinha várias delas, mas que todas foram rasgadas por algum motivo estranho. Eu também não me lembro de quando as comprei, mas sempre que olho para elas, eu me lembro das mesmas palavras:
“Costure uma boneca com essa agulha. Ela realizará seu desejo.”
Eu não me lembro de quando ou quem me disse essas palavras, elas apenas aparecem em minha cabeça. E sempre que me lembro delas eu começo a observar a pequena agulha que eu achei espetada em uma das bonecas quando eu as observei pela primeira vez. É uma agulha fina e brilhante, porém completamente negra.
“Um desejo...”
Eu não consigo deixar de pensar. Esses buracos nas minhas memórias e essa agulha... será que não estão relacionados de algum jeito? Será que eu já fiz algum pedido antes e paguei algum preço de que não consigo me lembrar? Ou minhas memórias foram esse preço? Será que essas “emoções” que as pessoas dizem que eu perdi também têm a ver com isso? Eu começo a observar as bonecas novamente e começo a me perguntar:
“Por que apenas estas quatro restaram?”
Se eu preciso costurar uma boneca para que meu desejo se realize... talvez eu tenha feito quatro pedidos no passado, e cada boneca represente um desejo? Mas eu nem sequer me lembro de tê-las feito. Será que essas bonecas representam as lembranças que perdi?
“Se isso for verdade...”
Levantei de minha poltrona e fui atrás de tecido e linhas de costura. Se essa agulha realmente pode atender a qualquer desejo, eu posso usá-lo para voltar ao meu estado antes de fazer o primeiro pedido. Desse modo, se eu realmente tinha uma personalidade diferente, posso fazê-la voltar, ao mesmo tempo em que eu faria os buracos em minhas memórias desaparecerem. E, caso eu esteja errada, o pedido simplesmente não tem como ser atendido e eu não terei que pagar um preço.
Peguei o primeiro tecido que vi em minha frente, juntamente com as linhas de costura, e sentei de volta em minha poltrona.
Mas eu não comecei a costurar. Na verdade, eu não conseguia.
Eu não sabia que tipo de boneca eu iria costurar. Todas as minhas bonecas eram diferentes uma da outra, mas eu não tinha idéia do por que elas terem esses formatos ou esses rostos. No que eu poderia me basear para criar uma?
Sem idéias, decidi que eu escolheria uma das bonecas ao acaso e faria outra igual. Fechei os olhos e peguei uma das bonecas. No fim, eu havia pegado o gatinho roxo, com as patas presas ao rosto.
Como eu não conseguia enxergar seu rosto com as patas na frente, decidi cortar as linhas que ligavam suas patas à sua cabeça. Foi nessa hora que percebi que ele não tinha boca, ao contrário das outras bonecas.
“Que curioso...”
Peguei o tecido que eu tinha comigo e comecei a copiar o pequeno gatinho. O tecido se transformou em uma cópia branca do gato roxo, porém decidi não costurar suas patas. Eu não vejo significado nisso. Finalmente, quando só faltava cortar a linha, eu falei:
“Quero voltar ao meu estado original antes de fazer meu primeiro pedido.”
Assim que cortei a linha com meus dentes, minha visão começou a escurecer. Parecia que eu estava desmaiando, mas algo parecia diferente.
“Não...consigo...respirar...”
Logo depois minha visão escureceu por completo.
...
“Ei, o que está fazendo aí parada?”
Assustei-me ao levar uma leve pancada em minha cabeça. Ao levantar minha cabeça, percebi que havia um rosto olhando para mim de cima, e senti longos cabelos dançando pelo meu rosto.
Ah sim, agora me lembro.
Esses longos cabelos prateados...
Esse vestido enfeitado por babados...
Era uma de minhas mestras.
“Vamos, pare de sonhar acordada e volte ao trabalho, a loja já vai abrir! Os outros já estão quase terminando!”
Olhando à minha volta, percebo que eu estava parada no meio de uma grande sala, repleta de prateleiras vendendo tecidos e materiais de costura, enquanto todos os meus companheiros estavam organizando os produtos e limpando o balcão no fundo da sala, que ficava virado de frente para a porta de entrada. Assustada, percebi que havia me distraído de minhas tarefas e abaixei a cabeça.
“Eu vou checar o estoque antes de abrirmos então nada de distrações, certo?”
Agitada, eu acenei a cabeça e fui ajudar os outros na organização.
Realmente...
Esse foi um sonho muito bobo.
Afinal...
Eu sempre fui uma boneca.
...
Após ter dado o aviso, a jovem de cabelos prateados observou o pequeno gatinho branco de pelúcia se juntar às outras bonecas que organizavam a loja, e então entrou por uma porta que se localizava atrás do balcão. Do outro lado das paredes, a jovem se encontra com outra garota idêntica a ela, que observava uma terceira garota deitada, de olhos fechados, em uma cama. Era uma menina que tinha tudo para ser chamada de bela. Seus longos cabelos ondulados brilhavam com uma linda cor dourada e sua pele era branca e macia como veludo.
“E então irmã, como ela está?” - perguntou a jovem de cabelos prateados ao lado da cama.
“Ainda se distrai um pouco, mas parece que está tudo bem” – respondeu a irmã, se aproximando da cama. – “Isso é tão interessante...”
“Hã? O quê?” – perguntou novamente a jovem, intrigada.
“Sentimentos humanos.” – respondeu a irmã, sorridente – “Medo, felicidade, raiva, tristeza... É incrível como o desequilíbrio de apenas uma dessas emoções pode tornar um humano tão fraco, tão fácil de manipular.”
“É verdade” – concordou a outra – “E apenas com as frases certas e um pouco de magia, podemos fazê-los acreditar que estão realizando todos os seus desejos... Sem perceberem que na verdade estão perdendo as emoções que originaram esses pedidos, uma a uma, até que se tornem uma casca vazia incapaz de entender o que está acontecendo.”
“E quando isso acontecer e eles se tornarem incapazes de pagar o preço pelo próximo pedido...” – Começou a irmã.
“A magia terá que obter seu pagamento diretamente da fonte desses sentimentos...” – Continuou a outra.
“A vida!” – Terminaram as duas, em uníssono, levantando a mão da garota deitada na cama, onde havia uma pequena agulha negra espetada. Esboçando largos sorrisos, as duas irmãs soltaram a mão da menina e se dirigiram à porta de onde uma delas havia entrado. Desse ponto era possível ver que a sala onde estavam era, na verdade, um longo corredor repleto de camas, onde várias garotas diferentes estavam dormindo, todas com uma agulha negra espetada em uma de suas mãos. Uma das irmãs disse, por fim:
“Vamos voltar logo. Nossas “empregadas” não vão ficar arrumando a loja para sempre.”
E então as duas saíram da sala, o que não as permitiu ver que, de um dos olhos da menina loira...
Havia escorrido uma única lágrima.
Última edição por Mazzina em Sex 06 Jun 2014, 07:21, editado 3 vez(es)
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